História da Linhaceira, 18 - 1722, a Linhaxeira

Algures entre 15 de Março e 23 de Abril de 1722, o padre Luís Ferreira Branco, pároco de Asseiceira desde que há registos paroquiais (ou seja, pelo menos desde 1706), foi substituído pelo padre Manuel de Azevedo. Parecendo um mero detalhe, esse facto tem hoje uma relevância histórica fundamental para a compreensão do topónimo Linhaceira e da dicotomia entre este e o Mynhaxeira existente no Numeramento de 1527-32.
Isto porque, logo no primeiro registo de baptismo que o padre Manuel de Azevedo faz, de Eugénia, precisamente a 23 de Abril de 1722, escreve por duas vezes Linhaxeira, com um x no lugar do c.


Em 13 de Setembro, no segundo baptismo de uma criança da Linhaceira, Felícia, volta a escrever o nome da aldeia com x por duas vezes.


Mas já antes, a 30 de Agosto, o fizera no registo de casamento de Antonio Simões com Maria Lopes, embora aí o topónimo só apareça uma vez.


Só nos registos de Novembro, mais de meio ano após ter chegado à paróquia, é que começa a utilizar a forma Linhaceira, tal como ao seu antecessor sempre fizera.
O que é que isto pode querer dizer? Estávamos numa época em que a grande maioria das pessoas não sabia ler nem escrever, em que não havia placas toponímicas à entrada das localidades e até o nome da vila, sede de concelho, aparecia escrito de formas diversas em vários documentos.
Ora, nada mais natural do que um recém-chegado à freguesia, ao perguntar o nome de um lugar, escrevê-lo da forma que lhe fora transmitido, e é bem possível que os habitantes dissessem "xeira" em vez de "ceira".
Isto é importante porque, a ser verdade, poderia significar que o escrivão Jorge Fernandes que em 1527 (dois séculos antes) esteve na Asseiceira para coligir os dados referentes ao concelho para o "Numeramento", tivesse também percebido erradamente o fonema da penúltima sílaba do topónimo, escrevendo Mynhaxeira em vez de Mynhaceira.
Se assim fosse, tornava-se também muito mais provável um outro lapso: que o escrivão tivesse percebido erradamente o L de Linhaceira como um M (quanto a trocar o i por um y era uma prática habitual na época).
E assim se explicaria que os dois documentos mais antigos com o nome da nossa terra, apesar de contemporâneos, fossem tão divergentes.

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